Fiquei estarrecida ao ler, nesta semana, números do Ministério das Relações Exteriores que mostram cerca de 4,2 milhões de brasileiros vivendo fora do país, quantidade maior do que toda a população do Uruguai, que tem 3,5 milhões de habitantes.
Pesquisas recentes também apontam que um terço do nosso povo só não sai do país devido as dificuldades de imigração. Uma massa gigantesca de brasileiros, que equivale a população inteira de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, teve a esperança sequestrada e está pronta a desistir do Brasil.
Desalento com a crise, com a segurança pública deficiente, com o desemprego, com a redução da renda e a ausência de perspectivas, estão por trás desses números alarmantes.
O elemento mais forte desse imenso baixo astral é, sem dúvida, de fundo econômico.
Reverter esse quadro de desalento nacional deveria ser uma prioridade de qualquer candidato a presidente nas eleições desse ano e essa situação deveria frequentar as preocupações de todos os políticos. A proximidade do período eleitoral, no entanto, em lugar de amenizar, pode agravar uma situação já por si só muito difícil. A legislação eleitoral é muito restritiva e tende a engessar a ainda mais uma economia que ainda se ressente da forte recessão herdada de governos anteriores e agravada com a longa pandemia de COVID-19.
A quantidade de brasileiros vivendo no exterior cresceu continuamente desde 2015, tendo atingido, segundo o Itamaraty, recorde histórico, um aumento de 122% em oito anos.
O principal destino dos brasileiros que decidem morar fora são os Estados Unidos (42% dos casos). Estima-se mais de 1,8 milhão de brasileiros vivendo no país.
Depois dos Estados Unidos, o país que mais atrai brasileiros, com 6,5% do total de emigrantes, é Portugal.
Estimar a população brasileira no exterior é uma das tarefas mais difíceis para os pesquisadores.
Apesar da imprecisão nos números, sabemos que essa fuga do Brasil retrata um descontentamento contínuo que ainda não fomos capaz de estancar.
Mesmo em território internacional, essas pessoas não apenas têm o direito, mas o dever de participar do processo eleitoral do Brasil, nas eleições para presidente da República. De ajudar a consolidar as mudanças que o país precisa e que tiveram início no atual governo.
Em 2018, segundo o TSE, 500.727 eleitores brasileiros residentes no exterior estavam aptos a votar em 171 localidades eleitorais de 99 países.
Um dado interessante da última eleição é que dos eleitores que vivem fora do Brasil, Bolsonaro obteve 70,98% dos votos contra 29,02% de Fernando Haddad, do PT. Nos EUA, Bolsonaro alcançou 77%. Isso indica que o desencanto está na situação econômica do país e não na figura de quem comanda a nação.
Destravar os gargalos econômicos na geração de emprego e renda é um dos caminhos que vislumbro para amenizar a gravidade da crise que vivemos e, quem sabe, das crises que virão.
Precisamos refletir e agir sobre esses problemas. Se não, seremos sempre atropelados por eles.
Milena Câmara é advogada, especializada em Direto Criminal e Gestão Pública.