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O eleitor brasileiro precisa votar de forma responsável em 2022 para salvar o futuro

Waldir Maranhão
A disputa pela Presidência da República já está em todos os cantos do país, mesmo a legislação eleitoral proibindo campanha antecipada. Enquanto isso, os postulantes ao cargo se enfrentam no palco dos ataques políticos e das ofensas pessoais.
Muito tem se falado, não é de hoje, em um candidato de terceira via, que saia do terreno da polarização entre Lula e Jair Bolsonaro, mas até agora nenhum nome empolgou o eleitorado. Talvez por falta de cacife político para tanto.
De olho em 2022, partidos e candidatos têm alterado a bússola ideológica como forma de convencer o eleitor sobre um caminho eventualmente longe do cabo de guerra que se instalou.
Legendas que historicamente sempre tiveram um pé na esquerda agora ensaiam um passo na direção do centro, com direito a alguns avanços no terreno da direita e vice-versa. 

O mesmo tem ocorrido com pré-candidatos ao Palácio do Planalto.
Apesar de os formadores de opinião apostarem no surgimento de um candidato moderado e talvez de centro, a eleição presidencial do próximo ano terá a crise econômica como pano de fundo.
Com os efeitos colaterais da pandemia, a economia brasileira comprometeu inúmeros planos políticos, obrigando à revisão de discursos e promessas, além da reformulação das soluções para a crise.
Nas recentes manifestações contra Bolsonaro, um dos motes dos protestos é “comida no prato”, não sem antes vacina no braço. Os contrários ao governo cobram a elevação do valor auxílio emergencial para R$ 600 e a extensão de sua validade até o fim da crise sanitária.
O ministro Paulo Guedes e seus principais assessores têm tentado encontrar uma solução para a economia, mas não será no curto prazo que isso acontecerá. No contraponto, a dificuldade da equipe de Guedes pode favorecer eleitoralmente Bolsonaro.
Em queda nas pesquisas de opinião e criticado de maneira dura pela péssima maneira como o governo conduziu o combate ao novo coronavírus, além dos escândalos de corrupção que começam a surgir, Bolsonaro pode se beneficiar da memória curta a população.
Se por um lado a economia não dá sinais sustentáveis de reação, o desemprego continua em alta no país. Por outro lado, a arrecadação tributária continua avançando, assim como as previsões para a inflação oficial.
Nesse exato ponto, a inflação, pode estar a tábua de salvação do presidente. Com a alta da inflação, que de algum modo já impacta no bolso do consumidor, o rendimento da poupança tende a subir, dando a falsa sensação de que o poder de compra do cidadão melhorou. Com rendimentos maiores, o brasileiro experimentará de novo a sensação de ir às compras.
Além disso, a proposta de mudança nas regras do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), cuja faixa de isenção passará de R$ 1.900 para R$ 2.500 mensais, também criará um cenário ilusório, empurrando o cidadão ao consumo.
Esse quadro, estará em cena a partir do início do próximo ano, levará o eleitor ao engano, já que nos médio e longo prazos os efeitos na economia são enormes. Afinal, inflação oscila entre remédio e veneno.
Ressalto que na eleição presidencial de 2008 a situação era semelhante. Empolgado com melhora fictícia da economia patrocinada em especial no segundo governo Lula, o brasileiro foi às urnas para eleger Dilma Rousseff.
Naquele momento, a economia brasileira tinha como mola propulsora o chamado “crédito fácil”, ferramenta perigosa no curto prazo quando a sociedade não gera riqueza.
É compreensível que os eleitores tenham como referência um tempo de suposta bonança, o que de algum modo impulsiona a candidatura de Lula, mas é importante analisar em propostas concretas e realizáveis, não em saudosismo.
Não estou a incensar o projeto de reeleição de Bolsonaro e a demonizar a possível volta de Lula, mas é necessário olhar para o futuro, o que exige responsabilidade no presente.
No contraponto, é impossível não reconhecer os avanços sociais durante os governos Lula, que será fator preponderante em seu plano de retornar ao Palácio do Planalto.
Como tenho afirmado em artigos anteriores, o Brasil precisa com urgência quebrar essa onda de conservadorismo que começa a convulsionar o país, decretando nas urnas a derrota de um projeto político que mira o autoritarismo e o retrocesso.
Isso faz com que um eventual novo governo Lula funcione também como rito de passagem para a libertação dos brasileiros na seara da democracia, pois o que vivemos atualmente é marcado pelo perigo constante.
Por outro lado, contra Jair Bolsonaro pesam alguns fatores. A lenta imunização da população contra Covid-19 e a dificuldade enfrentada pelo governo na aquisição de vacinas merecem destaque. Além de conter a infecção pelo vírus e poupar vidas, dificultam a retomada de uma economia que no dia a dia parece viver aos sobressaltos.
A elevação da conta de energia elétrica, que passa a valer em julho próximo, provocará danos na economia. 

Os custos de produção da indústria serão majorados, provocando efeito cascata na economia. 

O comércio varejista, que já sente os efeitos da crise, precisará recorrer ao malabarismo. A geração de novos postos de trabalho continuará sob a ameaça do desemprego e da subocupação, sem contar na informalidade laboral.
Trigésimo quinto presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy disse certa feita: “Quando escrita em chinês, a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade.”
Concordo com a frase de Kennedy, mas por enquanto a crise crescente tem espantado a oportunidade.
O Brasil encontra-se em uma encruzilhada, já que diante da necessidade de pensar no futuro precisa tomar uma decisão consciente no presente.
(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
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