Ideia de importar grãos do exterior já despertava resistência no campo e agora se combina com suspeitas sobre lisura da operação
O governo invalidou, na tarde desta terça-feira, 11, o leilão de arroz estatal realizado dias atrás. Também “aceitou a demissão” (um eufemismo para “demitiu”, é claro) do responsável pela operação, Neri Geller, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. O que Lula não fez foi desistir do seu plano original.
As vencedoras do leilão, que aconteceu na última quinta (6), deveriam distribuir pelo país as 263 mil toneladas de grãos importadas pelo Planalto. A embalagem faria propaganda de Lula, trazendo os dizeres: “Arroz adquirido pelo governo federal”.
Constatou-se, no entanto, que as empresas não tinham capacidade para fazer o arroz chegar aos pontos de venda. Uma delas, como mostrou Crusoé, é um mercadinho de Macapá (AP) especializado na comercialização de queijo minas.
Suspeita de favorecimento
Para piorar, a principal corretora da operação, a Foco Corretora de Grãos, tem como dono um ex-assessor de Geller, que também é sócio de seu filho.
Tudo errado e com jeito de maracutaia. Daí a decisão de anular o certame, antes que algum dano concreto aos cofres públicos fosse constatado.
O governo, entretanto, se mostra disposto a retomar o plano “em outros moldes, para que a gente possa ter garantia que vamos contratar empresa com capacidade técnica e financeira” – segundo disse o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto.
Resistência política
É burrice, pois seja qual for o procedimento adotado, a venda de arroz pelo Estado já se tornou um foco de resistência política, seja pelo uso da embalagem escandalosa, com propaganda da gestão petista, seja porque os plantadores de arroz do Rio Grande do Sul estão preocupados, com toda razão, com o impacto dessa intervenção na saúde dos seus negócios.
O leilão deveria ter sido apenas um procedimento administrativo – o aspecto menos polêmico da história toda. Os indícios de irregularidade multiplicam a desconfiança com uma iniciativa que já não era vista com bons olhos.
Lula decidiu comprar e distribuir arroz dizendo-se inquieto com o efeito das inundações no Rio Grande do Sul no preço do produto. Os gaúchos são os maiores produtores de arroz do país.
O agronegócio afirma que a interferência do governo é desnecessária. Antes das inundações no estado, a maior parte da safra já havia sido colhida. A distribuição, agora, estaria prestes a ser normalizada, evitando um impacto significativo no bolso do consumidor final.
Interferência no mercado
O leilão anulado faz com que demore ainda mais a chegada do arroz estrangeiro aos mercadinhos brasileiros. Cada dia que passa, crescem as chances de que os grãos trazidos de fora acabem competindo com os grãos dos produtores nacionais, bagunçando o mercado. Isso pode ter consequências duradouras no setor.
Os agricultores, que já não têm amor por Lula, estão em pé de guerra, mobilizando sua bancada no Congresso contra o governo.
O presidente parece encantado com a ideia que a cada garfada de arroz estatal que levarem à boca, os eleitores lembrarão de seu nome com adoração.
Se insistir no projeto, pode fazer uma colheita maldita: o desprezo e a raiva do campo, agora acompanhados da lembrança de que a praga da corrupção parece estar sempre à espreita, nos negócios patrocinados por governos petistas.
Com informações do O Antagonista